segunda-feira, 13 de abril de 2009

Teatro de Natal - 1993

Lembram-se disto amigos????

PROFESSOR JOÃO OLIVEIRA:

NARRADOR – Os alunos ainda estavam silenciosos quanto o Professor João entrou. Ao ouvir o zumbido das suas adoradas moscas, teve um sorriso de orelha a orelha, tão pouco habitual que deixou toda a turma de boca aberta sujeita a servir de aeroporto aos aviões insectívoros.

PROF – Assim é que eu gosto! Assim posso ouvir as moscas, a minha música preferida!

NARRADOR – A aula promete! O professor até está bem disposto. Toca a aproveitar! O aluno que teve estes brilhantes pensamentos passa a palavra batendo com o cotovelo no parceiro do lado que, estando a dormir de boca aberta (mas sem mosca) acorda assustado e escorrega na carteira lançando o caderno e canetas para o chão quebrando a sinfonia das moscas.

PROF – Então ó meninos! O que é que se passa aqui? Isto por acaso é alguma feira ou quê?

NARRADOR – Ainda não refeitos do susto que apanharam ao ver como o sorriso do professor encolhera e a voz se transformara numa autêntica trovoada seca, os alunos ficaram estáticos por segundos. Mas o barulho recomeçou quando viram o espalhafato de material que estava no chão.

PROF – CALEM-SE!

NARRADOR – Felizmente ninguém na turma era cardíaco, mas as paredes da sala estremeceram e as bombas das asmáticas entraram em grande trabalho!...

PROF – Calma filhas!... Calma…

NARRADOR – A voz do professor agora era suava e meiga como nunca tinha sido. Mas os pêlos do bigode estavam demasiado levantados para acalmar qualquer aluno muito menos asmático.


PROFESSORA ALICE:

NARRADOR – Com a sua calma habitual e ar de quem vai a caminho da sala das torturas, a professora procura ganhar tempo demorando-se a escrever o sumário e a tramar o modo de domesticar aqueles selvagenzinhos que tantas dores de cabeça lhe provocam.

PROF – Vocês trouxeram os módulos?

ALUNOS EM CORO – Não!

NARRADOR – Lançando a mão à cabeça e suspirando profundamente…

PROF – Valha-me Deus!

NARRADOR – A sessão de faltas de material começa e os comentários dos alunos também.

PROF – Ó Holandês vê lá se te calas!

HOLANDÊS – Ó professora e sou só eu? Então e os outros? Isso é racismo!

PROF – Vê lá se queres ir para a rua!

NARRADOR – Mas a confusão continua para desespero da professora que entrou lentamente e sai de rastos.


PROFESSOR RUI:

NARRADOR – A aula decorreu normalmente até à fase dos exercícios, altura em que as coisas se complicam. O professor tenta ver os progressos dos alunos nos exercícios percorrendo todos os lugares da sala.

PROF – Atenção, eu na quero que fiquem com dúvidas! Na tenham medo e perguntem.

NARRADOR – Por cada aluno que passa o professor vai ficando cada vez mais branco. Que detergente usará?

PROF – Mas eu na percebo! Os exercícios fizemosos todos, já expliquei a voceses esta matéria mais de vinte vezes. Estão dispensados do resto da aula. Vou para casa ver se arranjo maneira de meter na cabeça de voceses esta matéria.


PROFESSORA SÍLVIA:

NARRADOR – Em fila indiana e silenciosamente os alunos alcançam os seus lugares. O barulho de fundo vai aumentando o volume. A professora, que já meteu a cassete de inglês irrita-se e diz:

PROF – Be quiet!

NARRADOR – Fez-se silêncio de novo. O Francês aproveita e pergunta em português:

FRANCÊS – Professora posso ir à casa de banho?

PROF – Be quiet!

FRANCÊS – Ai posso?

PROF – Sente-se e não diga disparates!

NARRADOR – A aula continua em inglês que esta professora não perdoa. Entretanto o Francês manda um grande pontapé na gramática. A professora fica com o ar mais escandalizado do mundo e o Francês a pensar que disse um palavrão em inglês, fica vermelho que nem um tomate.

PROF – Ó Frederico você tem que ter respeito nesta aula. Não admito faltas de educação! Se não lhe deram educação em casa, pode ter certeza que lha vou dar!

NARRADOR – Com o seu ar de vítima e acentuando mais a pronuncia francesa, o Francês resmunga entre dentes não se sabe em que língua.

FRANCÊS – Ó professora, eu vim de França sabe…

PROF – Sei sei… sei até bem de mais… Veja lá o que arranja…

NARRADOR – Entretanto dá o toque e a professora manda sair.


PROFESSOR EMÍLIO:

NARRADOR – Depois de bater as palmas, esfregar as mãos e mandar entrar tudo em passo de corrida, o professor começa a despejar matéria a grande velocidade. Nem todos os alunos acompanham e começa a sessão de insultos…

PROF – Paralíticos mentais! Não percebem nada disto!

NARRADOR – O barulho aumenta, os alunos verificam os circuitos procurando ver se são ou não aquilo que o professor disse.

PROF – Pouca chunga! Isto não é a Kananga do Japão!

NARRADOR – Alguns alunos não entendem a mensagem e começam a sentir as cachaçadas que curam a paralesia mental que os atinge. A cura é tão intensiva que alguns dos alunos nem sabem de onde é que chove. Mas lá vão acertando os exercícios. O tratamento parece dar resultado. O ambiente muda e vêm as anedotas dos alentejanos… a da porca, claro!

PROF - Então e aonde é que se vai pôr a porca?

- No quarto.

- Então e o cheiro?

- Deixe lá, a porca habitua-se.


PROFESSOR ROGÉRIO:

NARRADOR – a confusão tinha aumentado substancialmente, o ruído daqueles tenebrosos recrutas zero de contabilidade fazia estremecer qualquer sala. Até que entra o Temido Sargento Mesquita.

PROF – Ó jovens, não dispersem, vocês pensam que isto é alguma discoteca ou quê? Estão a ver-me com cara de barman ou quê?

NARRADOR – Os alunos começaram a tremer que pareciam varas verdes. Como era assustador quando se via umas ligeiras perturbações psicológicas do Mestre. Meia hora depois os alunos começaram a recuperar a sua cor natural. Um aluno já recuperado atreve-se a fazer uma pergunta.

ALUNO – Ó professor explique-me este exercício se faz favor.

PROFESSOR – Estamos a regredir, isto é uma escola de progressão e não uma escola de regressão.

NARRADOR – No entanto chega um outro professor e diz ao professor umas queixas da turma.

PROF – Jovens, estão a chegar-me aos ouvidos umas certas coisas negativas sobre a turma, e isso faz-me mal aos ouvidos, eu tenho uns ouvidos muito sensíveis.

NARRADOR – Entretanto dá o toque e o professor sai.


PROFESSOR ZÉ RICARDO:

NARRADOR – Estas aulas costumam ser sossegadas, tão sossegadas que cerca de 68,5% da turma está a dormir e os outros 31,5% da turma não está a dormir porque estão a jogar à batalha naval, ao galo ou a outro jogo. Resumindo e concluindo, estas aulas são uma chaga que nem vos digo nada.

Passa o professor Rogério à janela e não se sabe bem porquê, mas de repente toda a turma parece estar muito interessada na aula. O professor nunca tinha dado antes uma aula em que todos os alunos quisessem participar, e por isso é que ele não tinha mãos a medir.

PROF – Um de cada vez, senão não nos entendemos, e eu terei de pôr alguém na rua e isso eu não gosto de fazer.

ALUNO – Então não ponha ninguém na rua.

PROF – Vê lá se queres ser o primeiro.

ALUNO – Ó professor, porque é que duas mulheres não podem casar?

PROF – Porque são de…

ALUNO – Mas na Holanda pode-se.

PROF – Geraldo queres parar de me interromper, eu sei que não fazes por mal, mas é muito chato estares-me sempre a interromper, e não te esqueças que estás em Portugal.

NARRADOR – Dá o toque e o professor sai, mesmo sem responder à pergunta, deixando-a para a próxima hora.


1 comentário:

  1. Ceizare,é brutal como ainda consegues surpreender, principalmente com esta cartada mortal...Como é possível teres guardado durante 16 longos anos esta verdadeira relíquia?Parabéns.. Continua a mandar postais, mesmo que sejam "parvos" ....como tu!!! ehehehe.
    Saudações EPSMianas.
    Duaber

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